Que a tradução automática já faz parte da nossa vida e do nosso dia a dia não há como negar, mas o mau uso desse recurso pode causar alguns prejuízos, entre os mais graves, um erro de tradução pode levar a perdas financeiras ou até a um diagnóstico errado em um ambiente de atenção médica e esse tipo de falha já está bastante clara e evidente para todos.
No entanto, hoje quero falar daquela falha que não causa perdas e danos financeiros ou à saúde, mas que gera outro tipo de perda, muito mais discreta e ignorada por muitos.
As línguas são vivas e se transformam o tempo todo, expressões caem em desuso e outras surgem conforme a moda, tendências, humor, os famosos memes, enfim, a língua é um organismo pulsante e cheio de vida e há muita beleza nisso, mas não é disso que estou falando. Estou falando dos casos de outros idiomas, especialmente do inglês, que por ser a língua mais falada do mundo, acaba “entrando” nos outros idiomas sorrateiramente (ou não). E todo esse movimento vem sendo facilitado pelas traduções automáticas!
São inúmeros os exemplos: Salvar a data, uma tradução literal de Save the date. Não acho que eu seja chata, mas salvar não é a palavra que cabe nesse contexto. Talvez um dia (de tanto usarem) ela acabe se tornando uma opção, mas hoje não é. Esse é um exemplo de tradução literal que acabou se tornando uma “opção” para nativos do português que decidem escrever dessa forma já de primeira no bom e velho português.
O que dizer então dos textos jornalísticos? Aparentemente, um dos requisitos para ser jornalista e escrever artigos para a imprensa é escrever bem em seu idioma de trabalho, e isso até é feito pelos jornalistas, mas cada vez mais vemos textos traduzidos automaticamente e publicados dentro de artigos jornalísticos sem qualquer revisão. São inúmeros os exemplos, mas apenas em uma página encontrei todos os exemplos que cito abaixo:
“Na tenra idade de 54 anos me encontrei grávida”, escreveu McGee. “Por favor, nos abençoem com as suas orações por uma gestação segura”, continuou.
Para quem conhece, fica claro que no texto original a expressão era: I found myself pregnant – quando traduzimos literalmente para o português, a expressão é compreensível, mas idiomaticamente dói aos olhos e aos ouvidos. Que tal: descobri que estou grávida, ou apenas estou grávida?
Outro exemplo da mesma página (que, aliás, é uma campeã nessa área).
“Acho que não. Acho que eles querem muito sabiamente ter uma ruptura com os filmes. E não sei se funcionaria se fizéssemos parte disso”, pontuou Radcliffe ao E!News, que ainda disse o que responderia caso recebesse um convite. “Serei um político sobre isso e não lidarei com hipóteses.”
No original em inglês Radcliffe diz: “I’m gonna be a politician about this”. É sabido que em inglês as profissões vêm acompanhadas do artigo indefinido a/an que não se usa em português, ninguém diz que é um engenheiro (!!!) e que, portanto, não deveria sequer ter sido mencionado na tradução da fala do ator.
Mais uma, só vou pontuar uma parte (tem mais caroço nesse angu)…
“Ele disse que sentiu que minha voz seria reconfortante para as pessoas. Depois de muita consideração e por motivos pessoais, recusei a oferta. Nove meses depois, notaram o quanto o mais novo sistema chamado Sky soava como eu e eu fui forçada a procurar um advogado”. Segundo a própria atriz.
Quando ela diz que o sistema sounded like me em inglês e a ferramenta de tradução automática nos oferece a solução: soava como eu, eu penso no seguinte: dá para entender? Sim, mas isso não tem nada de idiomático em português, soava igual a mim seria uma solução bem mais amiga da língua de Camões. E nem vou entrar no mérito de que teríamos outras saídas possíveis.
Concluindo, usar a tradução automática sem revisão humana pode ser um baita tiro no pé e fazer com que a sua mensagem não seja transmitida adequadamente ou pareça confusa e amadora. Pense sempre nisso e se precisar de ajuda, conte com a gente!
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